quinta-feira, 31 de maio de 2012

Batendo Bola

Vocês se lembram do meu sobrinho Frederico de algumas postagens anteriores? O Doutor Frederico  Godoi Cintra? Esse mesmo , o mesmo que, onde quer que o encontremos está sempre elegantemente vestido , lindo, e perfumado e em horário de trabalho está sempre impecavelmente de branco? Pois é,
o que vou contar agora tem seu aval, embora seja o Fre uma pessoa bem resolvida, bem humorada,  que leva tudo numa boa, pedi o seu consentimento para não ferir suscetibilidades e longe de mim, neste blog ou fora dele, que deliberadamente eu venha magoar alguém pelo contrário, faço do blog um instrumento que homenageia, canaliza sentimentos de gratidão de carinho e de amor que sinto pelas pessoas.
Bem, o Fre, menino de uns seis anos, chegava da escola, e logo ia bater uma bola em um espaço destinado a ser uma praça que tem em frente a casa onde ele morava quando menino, ( a foto ao lado é meramente ilustrativa)  ele gostava tanto de futebol que passava a tarde alí brincando, começava a escurecer e nada do Fre entrar então, a Ivone minha irmã ía lá fora e o chamava:
    Fre, venha tomar banho!
    Depois mãe, depois, ele respondia.
    Dali a pouco voltava ela chamando:
    Fre, venha tomar banho!
    Já vou mãe, e nada.
Daí ela se irritava e ficava brava com ele então, ele entrava mas,  passando pela sala via o sofá e morto de cansado se jogava nele, e era inevitável, o sono o derrubava quase que imediatamente. Minha irmã sentava-se ao seu lado, e usava todo tipo de argumento para convencê-lo a ir para o chuveiro, um dia ela lhe disse:
    Fre, vai tomar banho, você vai dormir melhor, quando o corpo está limpo, dormir é muito mais gostoso porque o corpo desliza na cama , o corpo escorrega, ele então de olhos fechados lhe respondeu:
    Ah  mãe, eu não quero escorregar , eu quero dormir!!!

Mudou tanto heim, doutor? 

quarta-feira, 30 de maio de 2012

O Susto

Assim como é comum em toda cidade pequena, Sabaúna preservou seus hábitos e costumes que, aliados à fé e ao folclore foram se tornando tradição: as festas juninas com suas quermesses e quadrilha, os grandes bailes, o carnaval com seus blocos de rua, no mês de maio (o mês de Maria como era chamado), a procissão que levava a santa que ficava de um dia para outro na casa de cada morador visitado, a procissão da semana santa que tinha o barulho da matraca, das festas na igreja com apresentação de grupos de cavalhada e moçambique, a missa de ramos, a malhação do Judas, a missa do galo etc. Esses e outros eventos sempre fizeram parte do povo deste lugar tão aconchegante que nasci.
Descrevi tudo isso, para justificar um fato que quero contar:
Quando eu tinha  mais ou menos três ou quatro anos de idade, eu estava brincando no quintal de casa quando ouvi vozes de pessoas cantando na rua e, na curiosidade própria das crianças fui ver o que era, então, me deparei com um grupo de pessoas uniformizadas cantando e tocando instrumentos, menos um integrante do grupo que tinha uma roupa diferente: vestia um camisolão comprido até os pés, tinha uma espécie de coroa na cabeça,  na mão trazia um bastão de madeira com fitas nas pontas e, no rosto uma máscara muito feia feita de couro.
Quando percebi que aquela figura de aparência horrível e todo o grupo se dirigiam em minha direção, me assustei tanto que comecei a gritar e chorar, meu pai saiu correndo da oficina onde consertava relógio para me acudir e eu, de um salto pulei no pescoço dele gritando e custei a me acalmar.
Meu pai ficou tão sensibilizado com o meu susto que não sabia a quem dar atenção, se aos visitantes que homenageavam a família ou se a mim que ainda tremia em seu colo.
Lembro-me desse fato tão nitidamente como se isso tivesse ocorrido ontem.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

O Chorinho


        Pelo fato de termos nascido em uma família onde meu pai e meus irmãos eram músicos, e onde a música se fez uma constante, nós crescemos gostando de música, até com uma certa sensibilidade musical embora, nenhuma de nós sejamos musicistas hoje mas, ficamos com nossos ouvidos treinados para sentir e reconhecer uma boa música, a ter ritmo e tom para ouvir e... "cantar".
Lembro-me de quando eu era menina ainda, meu pai recebia em casa a visita de uns amigos músicos, moradores de Sabaúna: Seu Pinheiro (trazia uma flauta transversal preta), era marido de dona Dulce e pai da Dulcíris que hoje mora no meu bairro, vinha também o pai do Ludovico, o Seu Gumercindo, que era o barbeiro da cidade, trazia o seu banjo, vinha o Seu António Alabarce, meu padrinho com seu violino, e o Moacir Triboni que já nessa época  tinha iniciado um namoro com minha irmã Cecília, trazia seu cavaquinho.
 Eram noites fantásticas onde se confundia a importância da amizade e da música.
Às vezes também, iam lá em casa pra nos visitar, os irmãos de meu pai, o tio Manoel, tio Zequinha, tio Armênio, tio Francisco e tio Esterlino. Todos sabiam tocar violão, mas, o tio Esterlino tocava também lindamente uma flauta transversal de prata esse tio era na época  maestro na banda de música de Guaratinguetá. Às vezes não vinham todos na mesma visita mas quando eles chegavam, meu pai convidava também seus amigos de Sabaúna para que viessem em casa à noite  com seus instrumentos.
Tia Rita e tia Julita, irmãs de meu pai também tocavam e cantavam, a tia Encarnação esposa do tio Zequinha cantava.
 Iam noite a dentro tocando chorinhos e valsas,músicas de qualidade, e todos guiados pela partitura, com uma música  melhor do que a outra.
Era a coisa mais linda! Foram noites inesquecíveis.                         

Minha mãe ficava servindo cafezinhos e mais cafezinhos, bolinhos de chuva em forma de rosquinhas que a gente ficava ajudando a enrolar, servia bolo, fazia pipoca,  fritava mandiopã etc.
Já tarde, íamos deitar por insistência de mamãe mas, ficávamos na cama acordadas por muito tempo ainda, ouvindo aquela música maravilhosa, até o sono nos vencer.                                                                                                       


                                                                                                      



                                                                    

terça-feira, 15 de maio de 2012

Lembranças

Mais uma vez cito Mario Quintana:
"O passado não reconhece o seu lugar... ele está sempre presente".


Sinto muitas saudades daqueles tempos em Sabaúna, da minha infância e adolescência.
Sinto saudades de nossas saídas da igreja nas missas de domingo e, tantos eram os abraços e os: Como vai?
Tenho saudades, dos meus vestidos feitos por minha mãe (tive um de tafetá xadrez que farfalhava quando eu andava, lindo), interessante, éramos muitos e, nunca coincidia: quando o vestido era novo, o sapato estava velho e, quando o sapato era novo o vestido era velho, mas eu,engraxava meu sapatos velhos e me sentia linda e feliz.
Sinto saudades dos pratos que mamãe fazia, até consigo me lembrar do sabor que eles tinham: a carne assada que era fartamente recheada, do inhoque cheio de molho vermelhinho, da sopa de ervilhas que era feita com um bom pedaço de carne que tinha um grande osso que, segundo ela, era pra fortalecer os nossos dentes, tenho saudades das torradinhas douradinhas de pão francês com o pão cortado no comprimento, que a gente comia com patê de berinjela, ou com sardinha à escabeche, dos doces de abóbora com coco que eram sempre feitos em panelas grandes, de um bolo chamado Pão de Barão, do pudim de pão, da pipoca , da mandioca cozida, das lindas travessas de arroz doce polvilhadas com canela, e do doce de coco que era tradicional na mesa de Natal.
Sinto saudades... daquela porta da sala sempre aberta, do violão sempre sobre a mesa, das cantorias que fazíamos a duas vozes eu, e a minha amiga Emília Silva, ela fazia uma segunda voz perfeita, lembro-me de uma música que cantávamos que tem o nome de Lembranças, que foi gravada por Altemar Dutra... e muitas outras.Cantávamos também, principalmente na época do Natal, Adest Fidelis e Noite Feliz,
 sempre é claro, acompanhadas por papai ao violão. Nossas vozes, acrescidas com o som do violão elétrico ecoavam longe nas tardes dos domingos de Sabaúna.
Certamente Mário Quintana tinha razão, o passado volta... tantas lembranças e... quantas saudades! 
Saudades Emília , e meu abraço carinhoso.                                                                                                              

terça-feira, 8 de maio de 2012

Carisma

Existem pessoas que conhecemos ou até que convivemos ao longo da vida, que não deixam marcas em nosso caminho, em nosso coração, em nosso espírito simplesmente passam e não deixam nada de bom e nem nada de ruím, não que sejam pessoas más, apenas não possuem aquele toque sutìl e mágico que é capaz de envolver a nossa alma. O inverso também existe e é verdadeiro.Há pessoas que nos cativam, que sabem agradar, que são bem humoradas e, se sentem felizes em compartilhar conosco esse rico conteúdo com o qual foram agraciadas.
Há um casal em nossa família que se destaca pelo carisma que possue, falo da Ivone minha irmã e do Carlinhos, meu cunhado.Eles têm três filhos: Frederico, Mariane e Marina.
Há algum tempo, tenho tentado escrever este texto mas, para me referir a eles, os adjetivos para qualificá-los me pareciam tão pobres , tão pequenos e, eles são tão grandes; grandes de coração, grandes na afetividade, no carinho, grandes no trato com a família, grandes no amor, e maiores ainda na simplicidade.

Houve tempos que nossos filhos ( de todas as irmãs) eram pequenos e, em feriados longos ou em período de férias íamos todas as famílias juntas, para a praia ou para o sítio e nos divertíamos muito, em muitas vezes o tempo conspirava contra, e o Carlinhos pegava o violão e fazíamos uma cantoria ou então, ele inventava um jogo no qual pudesse participar toda a família, ou mesmo ficávamos todos à volta da mesa contando histórias, casos e piadas e a alegria era geral; o passeio valia só pelo convívio pois, estar junto deles tinha algo mágico e a sobrinhada toda tinha uma certa fixação na figura deles.
Hoje, fica mais difícil fazer isso, mas naquele tempo nenhum sobrinho ainda trabalhava e as férias de todos coincidiam e hoje, todos eles têm história pra contar além de que, esse convívio serviu para estreitar os laços com tios e primos fazendo com que saibam agora dar muito valor à família.Mesmo sem saber  Carlinhos e Ivone, foram referência de família e de pai para os meus filhos, quando aqui a referência foi quebrada.
A vocês que admiro e amo tanto, quero dizer que, entendo que um carisma tão grande só se justifica de uma maneira: por escolha e privilégio, Deus pousou o olhar sobre vocês deixando impressas as marcas desse amor que transborda.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Meus Pais


Dona Júlia de Souza Mello a minha mãe, foi uma mulher linda que de berço era culta mas, além disso
teve também fina educação em colégio de freiras, coisa que tirou proveito para a educação dos filhos.

Juntando tudo que ela aprendeu à sensibilidade musical de meu pai todos nós saímos ganhando pois, em nossos tempos de escola eles eram sempre convidados pela diretora, para ajudarem nas festas que realizavam, meu pai sempre acompanhava ao violão a todo tipo de apresentação de teatro, quadrilhas , declamações e, essas apresentações eram sempre ensaiadas por minha mãe.
Há uns dias atrás, conversando com uma amiga a Cleide Soares, ela comentava com saudades que, quando os ensaios de quadrilha, eram feitos lá em casa , disse ela que não sabia onde iam parar a mesa da sala e as cadeiras, mas os ensaios aconteciam e, a apresentação saía uma beleza. Meu pai também tocava violão na igreja, além de tocar clarineta na banda de música local.

Outro dia também, conversando com uma outra amiga a Celina Maldonado, que naqueles tempos foi também moradora de Sabaúna e tem casa lá ainda, ela saudosa me contava que foi a  minha mãe que lhe ensinou o catecismo, coisa que eu nem me lembrava.
Infelizmente poucas fotos temos da mamãe pois embora fizesse tratamentos, um reumatismo a fez sofrer muito e ela não gostava mais de fotos pois era perceptível a mudança na sua aparência, que ficou um tanto quanto tristonha. Sempre vi nos guardados lá de casa um jornal que tinha a foto de minha mãe com uma faixa onde estava escrito: Rainha da Beleza ou Rainha de Mogi não me lembro bem mas, esse jornal não sei onde foi parar. 

Seu João Francisco de Souza meu pai, era um mineiro bravo mas, com oito filhos tinha mais é que se fazer respeitar mesmo, era pessoa bem conceituada tinha muito boas amizades conquistadas ao longo do tempo que foi morador em Sabaúna e, era benquisto por todos.
Papai era um homem bem bonito, tinha cabelos pretos era elegante, gostava de vestir-se bem, era um homem simples mas, destacava-se onde estivesse pois, falava muito bem e corretamente sobre  qualquer assunto inclusive, debatia com base e certeza do que dizia sobre a nossa política e sempre argumentava também sobre a economia do mundo, principalmente Brasil, Estados Unidos e Rússia isso... pelo fato que era uma pessoa que se atualizava, era bem informado, ouvia religiosamente o Repórter Esso (nessa hora não queria ser perturbado), e fazia coleção da revista O Cruzeiro, era um homem ativo e atento.



Meus pais em Sabaúna foram pessoas participantes e atuantes na comunidade, construíram a sua história e  portanto, não tiveram  uma vida em vão.
Creio que, quem conheceu bem essas duas pessoas maravilhosas deve ter guardado em sua memória  algo acontecido ou um fato qualquer que os traga à sua lembrança. Foram pessoas marcantes que deixaram saudades.