sábado, 31 de março de 2012

O Sonho e o Presente




Quando eu estudava no curso primário, sempre fui boa aluna, era dedicada ,estudiosa e quase sempre tinha as primeiras notas da sala. Ao terminar o quarto ano minha professora Dona Virgínia Jungers chamou meu pai e disse a ele:
    Vou preparar sua filha no próximo ano para prestar o exame de admissão ao ginásio pois,ela é boa aluna e acho que ela não deve parar de estudar. No ano seguinte eu já diplomada, frequentava as aulas dela na sala do quarto ano, minhas aulas eram preparatórias, particulares e gratuítas  Infelizmente, ela foi removida mas, chamou novamente meu pai e lhe disse que, sentia por mim ter que ir embora mas, tinha contratado e deixava pago, o Sérgio Triboni (que veio a ser cunhado de minha irmã Cecília), para me dar esse curso.
Naquele tempo, o Instituto de Educação Washington Luis era o único que eu poderia cursar, mas exatamente por ser único, era elitizado alí, só frequentava a nata mogiana e os filhinhos de papais portanto, eles teriam que me reprovar de alguma forma, já que eu não era nata mogiana embora tivesse feito uma ótima prova fui reprovada mesmo, por um décimo de ponto (99,99). Fiquei frustrada, vi meu sonho se desvanecer, mas não morreu não, só adiei esse sonho pois, jurei que um dia voltaria a estudar.
Casei-me cedo, e cedo tive filhos, mas quando meu filho mais velho tinha dez anos e sua irmã sete eu percebendo que meu casamento um dia acabaria, voltei a estudar , tinha que me preparar para a vida. Fiz o curso Supletivo e, em um ano e meio fui fazendo os exames e eliminando assim os cursos ginasial e colegial e, com eles concluídos prestei vestibular e fiz faculdade. Nessa época, eu trabalhava como responsável por uma biblioteca e achei por bem não deixar meu emprego, porque, pegar aula naquela época não era fácil e, eu via a dificuldade de minhas amigas iniciantes que, um ano tinham aulas e que as vezes eram longe, outras vezes não conseguiam nada e eu, não poderia ficar sem salário fixo, tinha um casamento capenga e tinha responsabilidade com meus filhos. Consegui trabalhando na biblioteca,  pagar os  cursos de faculdade meu, e do Marco e, depois o da Gi. Depois que eu e o Marco nos formamos, eu já estava com quase quarenta anos e  sabem o que me aconteceu? Fiquei grávída.
A Dona Durcília diretora do colégio, ( por quem eu tenho um grande carinho e gratidão) não acreditava quando contei a ela e, chamou o responsável pelo laboratório do colégio o Seu Álvaro pai do professor Aroldo Saraiva, e combinou com ele para fazer o meu exame de urina, o que até alguns alunos participaram e o refizeram para aprender e, foi constatada a gravidez.
O colégio quase veio abaixo era uma alegria só, os alunos foram à biblioteca me dar a notícia  e me carregaram no colo, ganhei flores foi lindo.
Quando foi pra Jú nascer, A Gi (com dezoito anos)  e a Débora filha da diretora que eram e são muito amigas até hoje, falaram que queriam ir comigo ao hospital mas, estavam em uma festa junina e avisadas, vieram como estavam, de trancinhas e vestidos de chita. Os meus familiares que também queriam ir foram avisados e chegaram rapidinho enquanto tomei banho e, ficaram esperando lá fora, quando entrei no carro, quatro carros me seguiam e, todos na buzina:
Bi bi bibibi, bi bi bibibi , parecia uma carreata política.

Quando ela nasceu pedi ao médico que a queria embrulhada pra presente  pois, era véspera do meu aniversário e ela era meu presentinho, o presente que Deus me deu nesse dia. E a Juliana, ela foi sempre minha companheirinha pois, alguns anos depois meu casamento se desfez.
Mais tarde os dois irmãos me ajudaram a pagar a faculdade da Juliana .

quinta-feira, 22 de março de 2012

A Gota de Colírio

A Cecília sempre morou em Sabaúna mas, a Nininha , a Maria Helena (a Lena) e eu, quando casamos passamos a morar em Mogi das Cruzes, perto uma das outras.
Um dia, saímos todas juntas para fazer compras mas, antes fomos a uma consulta ao oftalmo que a Lena tinha agendada.   
 Nessa consulta tinha que ser pingado por duas vezes um colírio em seus olhos, para  a realização do exame.O Neto filho da Nininha, o Marco meu filho e o José Carlos, filho da Lena este, com três ou quatro anos mais ou menos, estavam conosco mas,em uma outra área brincando. Quando  foi para pingar o colírio a segunda vez, a Lena não conseguia manter os olhos abertos e como a moça não conseguia sozinha, pediu que eu e a Nininha segurássemos a pálpebra pra ela poder pingar. Justamente nesse momento o Zé entrou e, vendo de um lado eu, a tia Nininha de outro e a moça , todas sobre a  Lena, assustou-se de tal maneira, que puxava a moça e gritava:
    Larga a minha mãe, sua imbecil!
    Sai daí, você ta machucando a minha mãe.Larga dela!
A Lena sem enxergar direito e com os olhos ardendo não sabia o que fazer para acalmá-lo.
Sem dúvida, o Zé  revelou-se alí ser o grande protetor de sua mãe, como é até hoje, que a tem por perto e a rodeia com seu cuidado e carinho, como bom filho que é.
Hoje esses meninos cresceram e, são grandes profissionais.
O Neto filho da Nininha, o Doutor Neto , é hoje um cardiologista renomado, médico que tem a agenda cheia o ano todo, respeitado pelos profissionais de sua área e, muito, muito querido pela sua clientela.
O Marco meu filho, como já tive oportunidade de contar, é arquiteto, tem seu valor reconhecido em obras lindas que projetou como a casa do próprio Neto,  a casa do seu tio Carlinhos ... Junto à Formo Arquitetura e Design onde trabalha, faz parte de grandes outros projetos até pra gente famosa , essa grande empresa tem obras não só em áreas residenciais, como  na área de lazer , na da saúde, em espaços públicos e, na área industrial.


O José Carlos por sua vez, tornou-se um grande empresário no ramo de segurança e monitoramento em condomínios.
Sua empresa a Dimensão já cobre a região de Mogi das Cruzes, o Vale do Paraíba e o litoral e, vai crescer ainda mais, pois, ele está à frente de tudo e como dizem, é o olho do dono que engorda o gado.

A esses meninos, que cresceram não só na estatura, mas também no profissionalismo, o meu carinho e os meus cumprimentos.



domingo, 18 de março de 2012

Cumplicidade

Minha mãe, tendo lavado muita roupa, encheu todos os varais do quintal os quais, eram levantados por um bambu, terminado o serviço foi para a cozinha cuidar do jantar. Era fim de tarde de verão e  as roupas secavam-se rapidamente, e eu estava  por ali brincando no quintal.
João meu irmão, (três anos mais velho que eu) não estava em casa, tinha ido à casa de um amigo para estudar e, minha mãe já reclamava por sua demora:
     O João está demorando tanto, dizia pra mim, seu pai vai ficar bravo com ele.
Dali a pouco vi o João chegando pela lateral da casa meio escondido e , me fazendo sinal, me chamando baixinho.
    Ana, pega pra mim aquele shorts que está no varal.
Abaixei o varal com dificuldade pois, eu era pequena, e sem que minha mãe visse, peguei o shorts que era igualzinho ao que ele estava vestido e ele o trocou, e eu coloquei o que ele tirou no mesmo lugar no varal.
Um pouco depois, minha mãe foi ao quintal para recolher as roupas e indignada falou assim:
     Que coisa estranha! Coloquei todas as roupas no varal ao mesmo tempo, com este sol tão forte todas as roupas estão sequinhas e justamente este shorts que é de tecido tão leve continua encharcado, eu não entendo este mistério.


Eu ouvi e tremi nas bases, eu sabia que era muito grave o que eu tinha feito mas, tinha salvado meu irmão de uma surra de meu pai, pois ele tinha ido nadar no ribeirão.
Eu e o João sempre nos demos muito bem, lembro-me quando ele menino ainda, comprou um cavalo e não tinha onde colocá-lo, lembro-me também quando ele usou seu primeiro terno, lindo cinza claro. 
João sempre foi muito bonito, era músico, tocava saxofone e, como sargento da Escola de Especialistas da Aeronautica de Guaratinguetá fazia parte da banda de música dessa escola onde também, meu tio Esterlino irmão de meu pai era maestro. Saudades, João,saudades.      

terça-feira, 6 de março de 2012

Malhação do Judas

Quando meus filhos eram pequenos, íamos sempre à Sabaúna para visitar meus pais.
Estávamos lá em uma páscoa, e ia acontecer a malhação do Judas, no sábado da Aleluia de manhã. Esse acontecimento era tradicional na cidade, na praça perto do jardim, lá amanheciam pendurados nos postes alguns bonecos de pano que eram feitos não se sabia por quem, às escondidas de madrugada.Eram também afixados nos postes uma espécie de testamento do Judas, que as pessoas gostavam muito de ler por que neles, se faziam brincadeiras com muitas pessoas da cidade.
Nessa páscoa, meu filho Marco, e o Marcelo filho da minha irmã Cecília  tinham respectivamente quatro e seis anos e esperavam conosco no muro da frente da casa,a malhação passar, pois queriam malhar também.
Quando essa malhação passa, os meninos agem assim: eles pedem balas:
   Queremos balas, queremos balas!
Se são atendidos, agradecem e vão embora, se não, eles gritam:
   Pão duro , miserável, pão duro, miserável.
Quando a malhação passou, nós demos balas, os nossos meninos quiseram ir mas, eu e a Cecília, com medo que os meninos maiores os derrubassem, não deixamos que fossem. Ficaram tristes e até choraram.
A malhação passou mas, bem em frente a nossa casa, sobrou uma perna do Judas.
Marco e Marcelo, desceram rapidamente a escada e sairam arrastando aquele pedaço de Judas indo em sentido contrário ao dos malhadores.
Era a primeira malhação deles e, não sabiam direito como agir, foram em frente ao armazém e gritaram:
    Queremos balas!!!
O Otávio Mathias e seus empregados acharam bonitinho aqueles pequenininhos e jogaram muitas balas, eles encheram os bolsos e a sacolinha que levaram e, sem prática, sem saber o que dizer, ao invés de agradecer os bolsos cheios, sairam gritando:
    Pão duro, miserável! Pão duro, miserável!
Nós rimos muito.



 Na lateral direita: meu sobrinho Marcelo.
Da direita para a esquerda, sentadas:Cecília,(irmã) Almerita, (cunhada, esposa do João), Júlia (irmã).
Em pé, esquerda para direita Márcia (amiga) e Lena (irmã).

sábado, 3 de março de 2012

Meu Menino

Léo faz em julho oitenta anos, ele e eu somos pessoas simples, nossa casa é simples, o carro é simples, a vida, é simples. Simples, mas é boa.O Léo acorda primeiro que eu, faz o café e me traz na cama todo dia. Quando eu levanto cuido da casa e do almoço, à tarde se é dia de hidroginástica ( faço pela prefeitura, terceira idade)ele me leva e me espera, fazemos os serviços de banco, compras, tudo de carro, voltamos e ele vai jogar bilhar que sabe e, gosta muito.
À noite cada um em seu computador,enquanto eu escrevo meu blog ( marcafato.blogspot.com) ele joga baralho, quando não escrevo, jogamos dominó, os dois um contra o outro também pelo computador.
Dirigir é uma das coisas que o Léo mais gosta de fazer na vida. Léo foi como policial e funcionário público, motorista de confiança do governador Ademar de Barros e, quando o primeiro fusca saiu da fabricação e foi mandado de presente para o governador, ele teve o privilégio de ser o primeiro a dirigi-lo no Brasil.
Voltando à simplicidade de nossas vidas, o carro do Léo é um Gol velho ano de 1985, já isento do IPVA mas, que ele tem verdadeira paixão, cuida dele como se fosse um filho até o chama de : Meu Menino.
Um dia , no ano de 2006 fomos ao centro da cidade em uma farmácia e, quando voltamos, cadê o carro? Tinha sido roubado. Sensação horrível.Voltamos até a avenida dos bancos, ia passando uma viatura policial comunicamos o ocorrido, o policial pediu os documentos para fazer a notificação e disse:
   Ah, o senhor também é policial?
   Fique tranquilo, nós vamos encontrar seu carro.
Os dias foram se passando e as esperanças diminuindo.
Uma madrugada o telefone tocou, era a polícia dizendo que podíamos comparecer lá que o carro tinha sido encontrado. Decepção, o carro que era verde estava todo lixado e soubemos que seria pintado de marrom no dia seguinte pra ninguém mais encontrá-lo.O carro voltou carcassa, e peças soltas, tinha sido todo desmanchado.
Em frente a minha casa tinha um estacionamento que estava desativado, o Léo emprestou do dono o espaço e, por um mes a fio trabalhou montando o carro peça por peça sozinho. Pronto o carro, mandou pintá-lo o que fez renová-lo. Não deixou de ser velho mas, ficou ótimo, com uma aparência de novo.
Desde então, já fomos umas quinze vezes para Minas Gerais, já fomos ao Rio de Janeiro, à Bahia, ao Paraná, ao Paraguai, à Argentina, à Goiás, ao Espírito Santo, à Santa Catarina e se Deus nos der vida e saúde, iremos a muitos outros lugares ainda.